A China é a principal aliada comercial e econômica da África atualmente, com diversos projetos para o desenvolvimento socioeconômico da região através do seu “Belt & Road Initiative” (A Nova Rota da Seda).
Trazendo diversas construções de infraestrutura aos países, os projetos desenvolvimentistas permitem estabelecer grandes relações geopolíticas de “débito” e troca, em que os atores investidores ganham liberdade de cobrar “favores” às nações que dependem de seus investimentos.
Isso faz parte das relações internacionais e mais países irão copiar a estratégia de grandes projetos desenvolvimentistas como o Belt & Road da China para que aumentem suas alianças internacionais e concretizem seus interesses mundialmente.
O que são Projetos de Desenvolvimento Internacional
Projetos internacionais de investimento em desenvolvimento sempre foram presentes principalmente entre aliados econômicos e políticos, onde um país cria fundos, instala empresas ou faz acordos comerciais na construção da infraestrutura de outro país com o objetivo de trazer mais crescimento à sociedade deste segundo ator.
Essas trocas não são executadas somente entre as nações, existem diversas organizações e instituições financeiras internacionais (IFI) que foram criadas exatamente com o objetivo de fornecer dinheiro aos países e seu desenvolvimento interno, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF); Banco Europeu de Investimento (BEI) entre diversos outros.
Ao estabelecer o acordo de investimento, firma-se um relacionamento entre os países e instituições envolvidos.
Normalmente, o que atrai e impulsiona a criação desses laços no desenvolvimentismo são as trocas comerciais que poderão estabelecer, seja uma venda mais barata de matérias-primas ou estabelecimento de empresas internacionais no país que produzirão lucro.
O Belt and Road Initiative (BRI) da China é a maior estratégia global de projetos de desenvolvimento. Seu sucesso fez com que muitos países lançassem suas próprias estratégias de desenvolvimento internacional para tentar mimicar o BRI e não perder relevância e influencia internacional, como o Global Gateway da União Europeia e o B3W “Build Back Better World” dos Estados Unidos.
O que é o “Belt & Road Initiative” – BRI – Chinês (Iniciativa do Cinturão e Rota / Nova Rota da Seda)
O “Belt and Road Initiative” (BRI) foi lançado em 2013 pela China, também conhecido como “A Nova Rota da Seda”, retomando relacionamentos com os países das antigas rotas marítimas do Indo-Pacífico através do Sudeste Asiático até ao Sul da Ásia, Oriente Médio e África.
A estratégia tem como objetivo a construção de um mercado de trocas econômicas e culturais dentro das relações internacionais para resolver uma “lacuna de infraestrutura” que os países no qual atua possuem em relação aos centros do mercado internacional e trazendo um crescimento econômico em toda sua área.
O BRI possui um orçamento de 4 a 8 Trilhões de dólares, com perspectiva de impulsionar o PIB mundial em US$7,1 trilhões por ano até 2040, de acordo com estudo econômico de 2019.
Os principais projetos Chineses no continente Africano
Dentro do Belt & Road Initiative existe um braço específico sobre os diversos investimentos e projetos chineses na África, o Belt & Road Africa lançado em 2018.
A parceria sino-africana vem crescendo nesses últimos anos, sendo a China o principal aliado comercial dos países africanos atualmente. Mas o seu relacionamento já vinha se estreitando mesmo antes do anúncio do BRI, com trocas de metal e concreto africano mais baratos para a produção chinesa.
A África é fornecedora de mais de ⅓ do petróleo que a China importa, assim como 20% do algodão. O continente possui diversos recursos naturais básicos de matéria prima que são necessários para a indústria, e a China está buscando alcançá-los ainda mais.
A China vem fornecendo apoio para o crescimento energético, de telecomunicações, na construção de estradas, pontes e portos, e no desenvolvimento da capacidade humana de produção em 42 países da África:
- Construiu ferroviárias no Quênia, Etiópia, Angola, Djibouti e Nigéria, sendo que a ferrovia do Quênia custou cerca de US$9 bilhões ao governo chinês.
- Em 2017, a Angola fechou acordo de construção da hidroelétrica de Caculo Cabaca de US$10.6 bilhões para a produção de 2172 MW. A Guiné também possui projeto de hidrelétrica com investimento chinês de 75%, cerca de US$598 milhões.
- Em 2017, a Gana aceitou US$ 23.6 milhões chineses para a exploração de Bauxita, minério provindo do alumínio.
- Nigéria e a China fecharam acordo de construção da Refinaria de Petróleo do Estado de Edo.
- Na Zâmbia a China fechou diversos projetos, sendo um deles o Chinese National Building Material, uma fábrica de cimento chinesa dentro do território africano, que custou cerca de US$500 milhões.
- A China construiu a sede da União Africana e da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, que custou US$31.6 milhões.
- A China assinou a construção da nova sede parlamentar do Zimbabwe.
- Fechou investindo na “Zona Econômica Especial da República do Congo” e na “Nova Cidade do Egito” para crescimento e construção de distritos residenciais, industriais, escolas, universidades, centros de lazer e etc. Faz parte do China Fortune Land Development.
Estes são apenas alguns exemplos dos projetos da China na África, sendo mais de 23 bilhões de renminbis já investidos. São por volta de US$9 bilhões de investimento chinês por ano na África.
O orçamento por si só já ultrapassa em mais de 8 bilhões de dólares que os outros atores de financiamento desenvolvimentista tiveram na África, incluindo o Banco Mundial, o Banco de Desenvolvimento Africano, os Estados Unidos e a União Europeia.
O BRI na África tem como objetivo tornar o continente uma economia de US$5 trilhões, chegando a representar 19% do PIB mundial. Buscam um crescimento do consumo doméstico em 3.8% anualmente para alcançar a meta de uma economia representativa de US$2.1 trilhões.
Os investimentos da China estão urbanizando, desenvolvendo o continente africano e levando-o para a “4ª revolução industrial”. A região africana foi nomeada como a 2ª região mais rápida em desenvolvimento atualmente e isso se dá por conta desse grandes investimentos da potência asiática.
Como Projetos de Desenvolvimento Internacional são a nova arma geopolítica das grande nações
Em 2017, Trump estabeleceu que só forneceria apoio de desenvolvimento aos seus aliados políticos, usando o desenvolvimentismo enquanto moeda. Porém, essa troca de favores por investimentos não é novidade nas relações internacionais. Trump só reforçou e abusou de um sistema que já existia por “detrás das cortinas da diplomacia internacional.”
A relação da competição Americana com a China reforçou esse caráter dos projetos desenvolvimentistas, colocando os países a se comprometerem internacionalmente ou com um ou com outro, e dependendo da escolha, estar pronto para perder parte do relacionamento com a nação que não foi escolhida.
Por exemplo, Sheba Crocker vice-presidente de política e prática humanitária na CARE International para a Devex, diz que há uma “politização da prestação de assistência humanitária” no cenário geopolítico.
Enquanto os grandes atores centrais, como EUA, União Europeia e China, investem em outros países, há uma cobrança por fornecimento de matéria prima barata, apoio político, maior facilidade nas trocas econômicas e diversos aspectos que alianças podem trazer. Dessa forma o crescimento de um país em desenvolvimento é utilizado de troca para o crescimento próprio dos atores centrais.
O “compromisso” com o desenvolvimento de outras nações que não são os centros econômicos está ligado diretamente com as eleições, os poderes e a força das instituições multilaterais para mediar e resolver as disputas.
O BRI chinês já atraiu mais de 150 países e organizações internacionais pois está preenchendo um espaço de poder geopolítico deixado pelos financiamentos internacionais que se afastaram do investimento em infraestrutura nas últimas décadas.
A China, ao contrário dos IFIs, responde às necessidades que os países que estão sofrendo o investimento colocam, entendendo a visão das demandas nacionais dos governos, o que dá mais força e resiliência a projetos como o BRI.
Porém, críticos comentam que os projetos chineses na África são executados com negligência, sem contratação de locais e acumulam uma relação de “débito”, as chamadas “debt traps” (armadilhas de débito). A China é responsável por 15% das dívidas da África:
- a Zâmbia deve US$10.3 bilhões durante o período de 2000-2010 e somente tendo pago US$1.2 bilhões;
- a Uganda deve US$200 milhões por conta da construção do seu único aeroporto internacional;
- o Quênia recebeu empréstimo chinês de US$4.5 bilhões para ferrovias, mas estão renegociando o prazo e valor de pagamento após perdas nas construções e sobrecarga da dívida;
Estes são alguns exemplos africanos de dívida com a China e o que muitos dizem é que, por estarem nessa situação, há possibilidade de uma tomada de posse das propriedades de infraestrutura construídas pelo governo chinês.
As “debt traps” fariam parte do planejamento e funcionamento do Belt & Road Initiative e o investimento global que a China está exercendo, contudo o país nega qualquer segunda intenção fora o desenvolvimento socioeconômico, dizendo que ao invés de confiscar as propriedades irão prorrogar os prazos de pagamento.
Há alguns outros problemas com os projetos do BRI. Enquanto que há uma preocupação por parte da maioria dos países que investem em projetos de desenvolvimento com os possíveis damos ao meio ambiente nesse processo, a China é conhecida por não se preocupar tanto com a sustentabilidade de seus projetos no exterior.
Mesmo assim, o BRI é um ótimo exemplo sobre a importância que os projetos de desenvolvimento possuem no estabelecimento de relações políticas e não somente econômicas, já que os investimentos em infraestrutura consolidam também uma influência chinesa em diversos países.
Ao ganhar influência, há o ganho de poder geopolítico e a possibilidade de implementar seus interesses na comunidade internacional com maior apoio e estabilidade.
O futura tendência da Geopolítica no Desenvolvimento Global
A construção de relações de troca e submissão a partir dos projetos de desenvolvimento global fazem parte do jogo geopolítico e econômico e a propensão é que isto só cresça nas próximas décadas. O desenvolvimento de estratégias globais de investimento em infraestrutura como o Global Gateway da União Europeia e o B3W “Build Back Better World” dos Estados Unidos para rivalizar o BRI da China, demostram esse crescimento.
Com a necessidade de uma mudança global com relação à produção e os impactos climáticos, por exemplo, as nações investirão mais para que outros países façam a transição para energias limpas mas, em troca, ganharão um protagonismo na produção avançada de energias sustentáveis além de influência no país em que investem centenas de milhões ou até bilhões de dólares.
Os projetos de desenvolvimento global estão dentro da estrutura em que as relações internacionais funcionam, onde investimentos em projetos de infraestrutura são usados como moedas de trocas comerciais e políticas.
Essa “troca de favores” é o que dá poder geopolítico a cada nação que tem capacidade de investir em projetos no exterior. Sendo assim, veremos mais países disputando para fazer investimento em lugares como a América Latina, Oriente Médio e a África para que possam aumentar sua influência geopolítica pelo mundo.