A China vem desenvolvendo suas forças armas em um esforço de se fortalecer militarmente no cenário internacional nas últimas décadas. Dentro do seu exército, People’s Liberation Army, em 2015, houve a criação do 5º batalhão chamado de “Força de Suporte Estratégico”, com o objetivo de desenvolver sua força militar no espaço e no mundo digital.
Cada vez mais nos conflitos armados é possível ver um movimento dos atores em atacar não somente os meios físicos de suprimento e sobrevivência, mas as bases de informação de satélites, dados e sistemas operacionais dos países e seus servidores. Estes campos podem sofrer ataques híbridos e deixar um país inteiro “no escuro”, sem possibilidade de comunicação e inteligência entre diferentes partes das forças armadas e do comando central.
Essas táticas híbridas de guerra criam novas vulnerabilidades dentro das nações. Dessa forma, mais departamentos militares como o People’s Liberation Army Strategic Support Force serão populares e até mesmo necessários para as grandes potências mundiais.
O que é a “Força de Suporte Estratégico” ou People’s Liberation Army Strategic Support Force (PLASSF) do Exército da China
Criado em 31 de Dezembro de 2015, o departamento “Força de Suporte Estratégico” (SSF, em inglês) do exército chinês People’s Liberation Army faz parte da reorganização militar chinesa para o século XXI.
Focada em aumentar suas inteligências em tecnologia no espaço, nas táticas de guerra eletrônica e capacidades de captação e troca de informações militares, a SSF foi criada para melhorar as capacidades militares chinesas nos novos domínios de guerra.
A China está em um esforço nas últimas décadas de se fortalecer, tanto em âmbito econômico como no militar. Dentro da SSF, o principal objetivo que possui é o lançamento e operação de satélites para fornecer base e informação ao People’s Liberation Army nas suas capacidades de comando e controle, comunicações, computadores, inteligência, vigilância e reconhecimento.
Enquanto os Estados Unidos e o Ocidente estavam investidos nos conflitos do Oriente Médio, as outras nações, como a Rússia e China, viram uma lacuna aberta para desenvolver inteligências militares tão avançadas quanto as ocidentais. Os estrategistas militares chineses observaram que as capacidades e operações espaciais são peças-chave para se posicionar nas futuras guerras.
Com os avanços tecnológicos, a guerra de informação, e espacial consequentemente (já que a data necessita das redes de satélites), fazem parte de uma tendência dos conflitos internacionais em envolverem mais domínios de guerra e campos de ação.
Por exemplo, ao atacar a rede de informação digital de um país haverá o corte de todo o sistema de comunicação militar. Dessa forma, armas de longa distância e tecnologias de reconhecimento do campo de batalha e de marcação de alvos seriam afetadas e até mesmo suas capacidades de contra-ataque seriam impossibilitadas.
Os conflitos não se limitarão somente ao campo material das guerras tradicionais com bombas, tanques, mísseis, mas se diversificarão ainda mais. As táticas híbridas fazem parte do desenvolvimento bélico futuro e cada vez mais veremos as nações atacando seus inimigos no espaço ou por vias cibernéticas.
O que são Guerras Híbridas e alguns exemplos de sua implementação no campo de batalha recente (incluindo no conflito da Ucrânia)
Os conflitos militares estão sendo travados em diferentes campos, ou seja, tanto na dimensão física quanto na digital e de informação.
Quando existe uma mesclagem entre as táticas usadas na guerra, é uma “Guerra Híbrida” que está em curso. É uma forma de combate que mistura estratégias tradicionais com os novos recursos que os avanços tecnológicos possibilitam, por meio de propagandas e ataques cibernéticos, para ataque do inimigo.
Para o cenário contemporâneo das relações geopolíticas, as Guerras Híbridas abrem uma possibilidade de travar batalhas sem que elas escalem para o domínio físico por conta dos meios em que ela ocorre, a internet e o espaço, por exemplo. Além disso, com o uso de táticas híbridas, é difícil dar atribuição ao ataque. Isso também dificulta a retribuição ou contra-ataque, uma vez que é difícil provar quem foi realmente o autor do ataque inicial.
Estes cenários não possuem um monitoramento ou legislação tão claras quanto nas dimensões físicas. Portanto, diversos países utilizam dessa zona cinzenta, em que é possível ameaçar e atacar seus inimigos sem necessariamente prejudicar a imagem do agressor no cenário internacional.
As Fake News, hackers, Deep Fakes, invasões a sistemas de controles industriais ou queda de redes espaciais de nuvem estão presentes em diversos conflitos recentes da história.
A Rússia é um dos principais atores em ataques híbridos, como os ataques cibernéticos na Estônia em 2007, mas com uma grande lista desde então. Seus esforços mais recentes têm focado na Ucrânia por conta da guerra que estabeleceram, como criando vídeos falsos do presidente Zelensky pedindo para suas tropas se renderem por meio da inteligência artificial para forjar a identidade (como o rosto e a voz) em mídias.
Para o lado da própria Ucrânia, houve um vídeo divulgado de Vladimir Putin declarando paz, mas que também se utilizava dessa ferramenta de falsificação digital.
A China também se utiliza das ameaças que a zona cinzenta permite, como em seu conflito com Taiwan e os Estados Unidos.
Com essa adição de novas táticas aos manuais de guerra, os países se vêem na necessidade de fortalecer suas forças armadas, e a Força de Suporte Estratégico do exército chinês é criada exatamente com esse objetivo.
Qual a tendência futura do uso de táticas híbridas no campo de batalha
O futuro das guerras é o método híbrido. Com mais formas de atacar seus inimigos sem grandes responsabilizações as nações vão travar seus conflitos em diferentes frentes, desde o campo de guerra territorial até no espaço com seus satélites e no espaço cibernético com seus supercomputadores.
As guerras não são mais só sobre destruir usinas e colunas de tropas, são sobre a criação de narrativas e divulgação de informações falsas que afetam a posição geopolítica do atacado.
A necessidade dos avanços nas tecnologias de inteligência para a defesa, e até mesmo para poderem atacar dentro dessas dimensões, se coloca cada vez mais essencial nas questões das relações internacionais.
Criação de Forças de Suporte Estratégicos como a do People’s Liberty Army se tornarão mais populares entre os países com maior preparação econômica para avanços tecnológicos, enquanto outros que não atualizarem suas forças armadas vão sofrer com ataques híbridos e não terão ferramentas para se defender.