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Como o Uso de Drones na Guerra da Ucrânia Reforçou o Programa “Replicator” dos Estados Unidos

No céu da Ucrânia, os drones de baixo custo estão mudando as dinâmicas da guerra, oferecendo à Kiev uma vantagem estratégica contra a Rússia.

Consequentemente, o intenso uso de drones tem reforçado a estratégia americana chamada de Replicator – Replicador, em português – criada para combater a massa militar da China.

Esses dispositivos aéreos, inicialmente projetados para tarefas civis, agora desempenham um papel crucial na vigilância, reconhecimento, ataque e defesa, desencadeando um debate global sobre o futuro da guerra. 

O que são os drones de baixo custo e como podem ser usados?

Os drones de baixo custo são veículos aéreos sem piloto que podem ser produzidos de forma relativamente econômica e acessível. Eles são feitos com materiais leves, como plástico, alumínio ou fibra de carbono e equipados com motores elétricos. 

Os drones de baixo custo têm uma variedade impressionante de formas que podem ser usados. Aqui estão alguns exemplos:

No entanto, o que realmente tem chamado a atenção é o seu papel no campo de batalha. Imagine centenas, senão milhares, desses drones voando em formação, como uma colmeia de abelhas, cada um com uma missão específica. Alguns estão equipados com câmeras para reconhecimento e seleção de alvos, outros carregam explosivos para ataques precisos.

O diferencial deles é que por serem baratos e descartáveis, podem ser usados em grande número, sobrecarregando as defesas inimigas e abrindo caminho para novas estratégias militares.

Como os drones estão nivelando o campo de batalha e fornecendo uma vantagem estratégica para as forças ucranianas contra a Rússia?

Há 2 anos, as tensões entre a Rússia e a Ucrânia aumentaram, até que Moscou invadiu o território ucraniano. Milhares de soldados têm perdido suas vidas ao longo desse tempo. 

Logo no início da invasão, Kiev tirou uma carta da manga e os ucranianos não estão apenas lutando com tanques e soldados. Eles têm algo novo em seu arsenal: drones.

Como no caso da Rússia e a Ucrânia, muitas vezes oponentes que estão em guerra têm capacidades militares muito diferentes, então chamamos isso de “conflito assimétrico” ou “guerra assimétrica”. Nem sempre a guerra assimétrica envolve dois países, poderia ser um grupo terrorista e um país, por exemplo, como os Estados Unidos contra o Talibã, que é um grupo armado do Afeganistão.

Caso os oponentes tenham um poder similar, como por exemplo os Estados Unidos e a Rússia, ou Estados Unidos e a China, seria chamaríamos de “conflito simétrico” ou “guerra simétrica”.

Nesse caso, a Rússia é um país muito mais poderoso em termos militares, econômicos ou tecnológicos do que a Ucrânia, gerando um desequilíbrio de forças. Por isso, nesse tipo de guerra o lado mais fraco pode usar estratégias diferentes, como guerrilha, terrorismo, ataques cibernéticos ou, nesse caso, o uso de drones para compensar suas fraquezas e desafiar o adversário mais forte.

Na mesma abordagem de guerra assimétrica contra a Rússia, a Ucrânia procurou desenvolver o que chama de “a primeira frota de drones navais do mundo”. Esse esforço é centrado em torno de uma embarcação de superfície não tripulada, chamada de Sea Baby para lançar ataques surpresa contra os navios de guerra russos.

Equipados com explosivos, essas pequenas armas foram empregados com eficácia, explorando as fraquezas nos sistemas de defesa dos navios russos. Essa estratégia não apenas destacou a capacidade de adaptação da Ucrânia em uma guerra assimétrica, mas também ressaltou a crescente importância das tecnologias de baixo custo e acessíveis em operações militares contemporâneas.

Esses drones no céu e no mar têm uma missão importante: fornecer aos ucranianos uma vantagem estratégica contra o exército russo. No céu, eles voam silenciosamente, reunindo informações vitais sobre os movimentos das tropas russas, identificando alvos estratégicos e até mesmo atacando-os diretamente.

Equipados com câmeras de alta resolução e, em alguns casos, até mesmo armas e explosivos, esses drones podem atacar alvos inimigos com precisão letal. Isso coloca os russos em desvantagem, já que é muito difícil de se esconder dos olhos vigilantes dos drones ucranianos.

Esses enxames de drones estão nivelando o campo de batalha em favor da Ucrânia de várias maneiras:

Porém, com o tempo os Russos também acabaram se adaptando e também usando drones aéreos em alta escala.

Por isso também, a eficácia demonstrada pelo uso de drones de baixo custo pela Ucrânia incentivou os Estados Unidos a acelerarem o programa Replicator, visando sua aplicação em conflitos futuros.

Esta iniciativa não apenas visa potenciais ataques contra outros países, incluindo a China, mas também busca aprender a desenvolver mecanismos de defesa eficazes contra esses drones, reconhecendo a crescente importância dessas tecnologias no cada vez mais modernizado setor militar.

O impacto dos drones ucranianos nas discussões políticas e estratégicas nos Estados Unidos

Os drones usados pela Ucrânia estão tendo um impacto significativo nas discussões políticas e estratégicas que já estavam sendo utilizadas nos Estados Unidos. Eles estão sendo vistos como um exemplo do potencial das novas tecnologias de guerra e como elas podem mudar o equilíbrio de poder em conflitos geopolíticos.

Aqui estão alguns aspectos desse impacto:

Os estrategistas também estão reconsiderando suas abordagens para lidar com ameaças internacionais, como a China. De acordo com o Pentágono, não se trata apenas de obter vantagem tecnológica, mas sim uma corrida contra o relógio. 

Segundo a inteligência de Washington, Pequim já militarizou ilhas no Mar da China Meridional e o presidente chinês, Xi Jinping, ordenou que os seus militares estivessem prontos para invadir Taiwan até 2027. 

A Iniciativa “Replicador” dos Estados Unidos para deter a China com drones usando a tática Moneyball

Em um movimento estratégico, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos revelou recentemente sua nova iniciativa, denominada de “Replicator“. Como uma resposta direta à crescente competição com a República Popular da China, esta iniciativa ambiciosa visa aprimorar de forma acelerada as capacidades militares americanas com o uso massivo de drones.

A primeira missão do Replicator será escalar e implantar milhares de sistemas autônomos – drones que não precisam do controle humano, definindo sozinhos seus alvos – em um prazo de 18 a 24 meses, a partir de Agosto de 2023. 

Combinando inteligência artificial, robótica e tecnologia comercial, esse projeto é o mais recente capítulo em uma série de esforços do Departamento de Defesa para transformar avanços em tecnologias emergentes em recursos prontos para uso.

Embora a meta de aprimorar as capacidades militares seja certamente empolgante, o Replicator tem um segundo objetivo igualmente importante: transformar a forma como o Departamento de Defesa conduz suas operações de aquisição de armamento, superando o desafio conhecido como “Vale da Morte“. 

Nessa zona, muitas tecnologias inovadoras de defesa acabam estagnando durante o seu desenvolvimento devido a alto custos e não conseguem ser implementadas de uma forma econômica no campo de batalha. Se o Replicator conseguir superar esse obstáculo, essa conquista poderia ser o verdadeiro ponto de virada da iniciativa.

Por trás dessa fachada de inovação tecnológica, há uma corrida contra o tempo para se manter à altura dos esforços da China para “inteligentizar” suas forças armadas e ao mesmo tempo baixando o custo de aquisição de armamentos eficientes. O objetivo é claro: evitar que a China ganhe vantagem geopolítica na região do Indo-Pacífico através de armamentos de baixo custo, mas eficientes.

Essa estratégia, às vezes chamada de “Moneyball military“. Moneyball é um conceito originado no beisebol, que envolve usar estatísticas e análise de dados para encontrar jogadores subvalorizados que podem contribuir significativamente para o sucesso da equipe, muitas vezes a um custo menor do que os jogadores mais renomados.

Relacionando isso ao setor militar de maneira simples, imagine que em uma batalha, os recursos disponíveis são como os jogadores de uma equipe de beisebol. Assim como o Moneyball busca encontrar jogadores com um bom desempenho subvalorizados, o conceito militar busca identificar tecnologias ou estratégias que possam ser altamente eficazes, mas que talvez não sejam as mais tradicionais ou caras como complexos sistemas de armas já existentes.

No caso do Replicator, seria o uso massivo de drones pelo seu baixo custo, mas alto eficiência e eficácia. Isso permite que as forças militares maximizem seus recursos, obtendo o máximo impacto com o menor investimento possível. Por exemplo, é comum ver no conflito Ucraniano, drones civis usados pela Ucrânia que custam cerca de $300 dólares destruindo tanques Russos que custam mais de $4.5 milhões de dólares.

No entanto, enquanto os holofotes estão voltados para o Replicator como uma solução futurista e mais econômica, surgem preocupações nos bastidores. Alguns questionam se as mudanças propostas são suficientes para enfrentar os desafios imediatos. 

Existe o temor de que o Departamento de Defesa possa ficar preso em um ciclo de progresso lento, correndo o risco de ficar para trás em uma era de rápida evolução tecnológica.

Qual é o papel dos drones de baixo custo no futuro dos conflitos mundiais?

O papel dos drones de baixo custo no futuro dos conflitos mundiais é um assunto de crescente interesse e preocupação. Enquanto essa tecnologia promete democratizar o acesso à defesa militar e fornecer vantagens táticas significativas à atores com menos recursos, também traz consigo desafios e riscos.

Por um lado, os drones de baixo custo têm o potencial de nivelar o campo de batalha, permitindo que países com recursos limitados se defendam contra adversários mais poderosos. Ou seja, tornando conflitos assimétricos em conflitos mais simétricos (de igual para igual). Isso pode ser visto no conflito entre Ucrânia e Rússia, onde os drones têm desempenhado um papel crucial na defesa ucraniana.

Porém, também pode ser usado contra os EUA que possuem o arsenal militar mais poderoso do planeta, mas que pode se tornar vulnerável contra drones de baixo custo usados por atores e países teoricamente mais fracos.

Sendo assim, o aumento do uso dessas tecnologias também levanta preocupações sobre segurança e estabilidade global. O baixo custo e a disponibilidade desses drones podem facilitar seu uso por grupos não estatais, como milícias e organizações terroristas, aumentando a complexidade e a imprevisibilidade dos conflitos.

Portanto, a rápida evolução tecnológica dos drones significa que suas capacidades estão em constante desenvolvimento, tornando difícil prever e controlar seu impacto em futuros cenários de conflito.

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