- A China adotará a política de tolerância zero com atividades separatistas;
- O fator “microchip” influencia diretamente na disputa geopolítica entre os EUA e a China em Taiwan;
- A invasão russa na Ucrânia está motivando Taiwan a garantir meios de segurança e estratégias contra a China.
A invasão da Ucrânia pela Rússia no início de 2022 desencadeou diversos problemas geopolíticos. O conflito foi e é responsável por impactar não somente a região Europeia, mas todo o mundo.
Um exemplo desse impacto é o aumento da insegurança que Taiwan passou a experimentar em relação à China, ao decorrer da guerra de Putin.
A China e Taiwan estão constantemente à beira de uma potencial escalada militar e, ao observar o conflito em território ucraniano, Taiwan teme que seu futuro seja similar ao de Kiev.
Esse conflito existe porque Pequim considera a ilha de Taiwan como uma parte inseparável de seu território mesmo que Taipei não concorde, e que o Partido Comunista Chinês nunca tenha governado o território, porém as duas nações nunca chegaram às vias de fato.
Mas se a Rússia for bem-sucedida na sua invasão da Ucrânia, a China pode se sentir motivada a tentar a mesma sorte com Taiwan.
Como a guerra na Ucrânia está afetando os cálculos da China em relação a um possível invasão de Taiwan
Segundo o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos, William Burns, a China está observando atentamente tudo o que está acontecendo no conflito Rússia-Ucrânia.
Ele diz que o governo chinês está impressionado com a feroz resistência da Ucrânia e também com a capacidade russa de suportar tamanho custo econômico para o país.
Por isso, ele acredita que a China estaria recalculando cuidadosamente seus planos que têm como objetivo tomar o controle da ilha.
Entretanto, a China deixou evidente que adotará a política de tolerância zero com as “atividades separatistas” em Taiwan e afirmou que, se necessário, retomará a ilha pela força, de acordo com o livro branco publicado pelo Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês.
A reprimenda do governo chinês foi divulgada após vários dias de “exercícios militares” chineses ao redor da ilha, organizados devido à visita da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à Taipe em agosto de 2022.
O que Taiwan está aprendendo com a guerra da Rússia contra a Ucrânia
A invasão de Moscou à Kiev criou um inevitável paralelo com uma possível invasão de Pequim à Taipei, desde o início. No entanto, a forte resistência ucraniana está ensinando algumas lições para ambos.
Joseph Wu, ministro das Relações Exteriores de Taiwan, ao falar com Fareed Zakaria, da CNN, disse: “Tentamos ver o que podemos aprender com a Ucrânia ao nos defender”. Ele manifesta sua admiração aos civis ucranianos que por vontade própria se dispõem a ir para as zonas de guerra e defender seu país.
Tomando a Ucrânia como exemplo, a Agência de Mobilização de Defesa Total de Taiwan, parte do Ministério da Defesa Nacional (MND), emitiu um “guia de sobrevivência de guerra” que ilustrou diferentes respostas à uma possível crise de segurança, como encontrar abrigos contra bombas, como obter comida e água por meio de smartphones, e como preparar kits de primeiros socorros.
Além disso, Wu afirmou que desde muitos anos Taiwan tem investido em defesas assimétricas, sejam mísseis de cruzeiro anti-navio, minas marítimas ou mísseis terra-ar.
Ainda nesse ano, o ministro da Defesa de Taiwan, Chiu Kuo-cheng, também propôs estender o recrutamento militar reservista de quatro meses para um ano. A proposta tem se mostrado popular e, pela primeira vez, um legislador sênior do partido de Tsai está pedindo que as mulheres também sejam recrutadas.
Taiwan, portanto, está ciente de que talvez não obtenha o apoio direto de países como os Estados Unidos, os integrantes da União Européia, do Japão, e de outras democracias liberais com o envio de soldados desses países, por exemplo.
Porém, a ilha sabe que a ajuda poderá chegar de forma indireta, através de armamentos, munição e inteligência, além de suprimentos básicos como comida e uniformes.
Ademais, no caso de uma invasão chinesa a Taiwan se concretizar, certamente as maiores economias mundiais de democracia liberal aplicarão sanções economicas contra a China, com o objetivo de contê-la.
A ambiguidade estratégica estadunidense no triângulo EUA-China-Taiwan
A ambiguidade estratégica dos Estados Unidos consiste em não tomar partido de forma objetiva no conflito entre China e Taiwan.
Uma pesquisa telefônica feita pela Taiwanese Public Opinion Foundation, uma Think Tank privada em Taiwan, revelou que 53.8% dos entrevistados disseram não acreditar em uma intervenção estadunidense em defesa de Taiwan em 2022.
Deu-se a entender que a resistência dos EUA em auxiliar diretamente a Ucrânia contra a Rússia, estaria provocando a sensação de desconfiança em relação a Washington, diferente do ano anterior, quando a desconfiança era de aproximadamente 28%, apesar dos 40 bilhões de dólares que Washington ofereceu ao país através do Lend-Lease Program, ajuda essa considerada indireta, mas fundamental para a defesa ucraniana.
Entretanto, durante a visita de Pelosi à Taipei e apesar das ameaças da China, que desde o início se opôs à visita no território disputado por Pequim, a presidente da Câmara dos Representantes declarou que “os EUA não vão abandonar Taiwan“.
A importância do microchips taiwaneses para os Estados Unidos
O fator “microchip” influencia diretamente na disputa geopolítica entre os EUA e a China.
A empresa taiwanesa Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC) possui cerca de 53% do fornecimento mundial de semicondutores, tornando-se a maior vantagem e segurança da ilha.
Para os Estados Unidos, a produção e distribuição de semicondutores é uma questão de segurança nacional já que diversos setores da sua economia dependem desse produto, apesar de seus esforços para a diminuição dessa dependência.
Em contrapartida, a China vê uma grande oportunidade de se tornar a nação hegemônica da Ásia e talvez a maior economia do mundo, podendo afetar até mesmo a segurança nacional estadunidense.
Portanto, há um grande interesse estadunidense de manter seu compromisso na defesa de Tawian, pois além de depender do fornecimento de chips produzidos na ilha, o interesse em impedir o crescimento chinês é uma de suas prioridades.
Por essa importancia estratégica para segurnaça nacioanl dos EUA, pode sim intervir diretamente no conflito.
As futuras tendências da tensão China-Taiwan com o desfecho da guerra na Ucrânia
A invasão russa na Ucrânia claramente está motivando Taiwan a garantir meios de segurança e estratégias contra a China.
Certamente, a comparação entre Taiwan e a Ucrânia é imperfeita, pois muitos dos problemas que Taipei busca amenizar não existem em Kiev. Como, por exemplo, a deficiência no treinamento reservista e até mesmo o baixo número de alistamento nas forças armadas em comparação com Pequim.
É importante salientar que Taiwan é uma ilha, o que aumenta consideravelmente a dificuldade de uma possível invasão chinesa, visto que uma invasão anfíbia é uma difícil e custosa operação militar lançada a partir do mar por uma força naval envolvendo o desembarque em uma praia hostil, fato que consequentemente remete a dificuldade da Alemanha nazista em invadir o Reino Unido na Segunda Guerra Mundial.
Apesar desses desafios, o ministro Wu afirmou que Taiwan continuará a observar e considerar as implicações da resistência bem-sucedida da Ucrânia à Rússia. E esse aprendizado será algo com que a China terá que se preocupar.