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Como a Guerra na Ucrânia Vai Transformar a Alemanha em Uma Potência Militar dentro da União Europeia e no Mundo

No fim do mês de Fevereiro de 2022, após a invasão russa na Ucrânia, o chanceler Olaf Scholz declarou diversas ações de reconstrução e fortalecimento das forças armadas da Alemanha, incluindo um fundo de investimento especial de 100 Bilhões de Euros para as forças armadas.

A Alemanha tem um movimento histórico de distanciamento com o desenvolvimento militar por um receio internacional, por conta do seu passado trágico do Nazismo. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o país se tornou um protagonista na política diplomática e econômica ao invés de focar em intervenções armadas para alcançar seus objetivos.

Essa mudança na linha política alemã com a invasão da Ucrânia mudará a posição do país internacionalmente e afetará os outros países. A reação interna e externa a esse pronunciamento de Scholz é dividida e implicará em diversas mudanças, principalmente na União Europeia.

Fonte: Pixabay

Razões históricas pelas quais a Alemanha era relutante militarmente e preferia usar o seu poder econômico como diplomacia

Desde o fim da Guerra Fria e da 2ª Guerra Mundial, a Alemanha tornou- se um dos principais líderes da política diplomática de resolução de conflitos internacionais. 

Por conta do seu passado destrutivo do nazismo alemão, a militarização do país não esteve mais nos holofotes dos investimentos, focando muito mais em fortalecer-se enquanto uma potência econômica do que um centro militar.

Porém, a agressão Russa contra Ucrânia fez com que o novo chanceler alemão, Olaf Scholz, mudasse a tradição política do país e tomasse diversas ações dentro do fortalecimento militar e defesa.

Com o histórico do nazismo, por mais que a Alemanha seja uma das principais nações da União Europeia, todo o avanço em uma política de reconstrução e reforma das forças armadas era mal-visto aos olhos da população e da comunidade internacional.

Por reconhecerem o papel negativo que tiveram na história mundial, o exército alemão Bundeswehr estava deixado “às traças”, sem investimentos e sem grande desenvolvimento por parte do Estado da Alemanha, necessitando de reformas em torno de 20 bilhões de euros para se modernizar.

Sempre sendo uma nação que defendia uma resolução de conflitos pelos meios diplomáticos de conversa e negociação, a Alemanha se utilizava da sua importância econômica muito mais do que a militar para defender seus interesses.

Mas a maré está mudando, ou como dizem em alemão Zeitenwende, após saírem de uma gestão de 16 anos com a diplomática Angela Merkel e com um novo e ousado chanceler, o país ouviu seu representante governamental se posicionar mais veementemente contra a Rússia e Putin e declarar que dobrará os investimentos nas forças armadas, além de diversas ações de reconstrução militar.

O que mudou na doutrina militar Alemã com a invasão Russa da Ucrânia

Com o aumento de pressões russas na fronteira ucraniana, antes mesmo de declarar a invasão, as pressões internacionais por um posicionamento da Alemanha mais forte contra a Rússia também aumentaram. 

Diversos países já estavam enviando armas e fornecendo mais recursos para as forças armadas da Ucrânia, principalmente os países da União Europeia. Algumas semanas antes da declaração de Scholz, a Ucrânia e seus oficiais estavam criticando a falta de apoio alemão na defesa do país, principalmente porque a Estônia estava em uma ação de enviar canhões para a Ucrânia, que haviam comprado da Finlândia mas que foram produzidos pela Alemanha e que necessitavam da aprovação deste último para que fossem enviados.

Isso porque a constituição Alemã pregava neutralidade em conflitos internacionais e proibia assim a exportação de armamento alemão para países em conflito como no caso da Ucrânia contra a Rússia.

Porém, com a efetiva invasão Russa da Ucrânia, Olaf Scholz resolveu mudar essa política alemã de isenção militar anunciando uma série de mudança nas forças armadas para fortalecer a defesa nacional e internacional de seus aliados:

Além disso tudo, a Alemanha está abrigando mais de 10 mil refugiados ucranianos, dizendo que todas essas ações são em defesa dos valores democráticos e da liberdade.

Como uma forma de acalmar possíveis críticas nessa mudança brusca na política militar alemã, Scholz disse que “não ser ingênuo significa não falar simplesmente por falar”, dizendo que a Alemanha não deixará seu protagonismo diplomático morrer, mas que é necessário se posicionar, inclusive militarmente, com relação a guerras injustas.

O novo chanceler também disse que vai defender “cada metro quadrado do território da OTAN”, que a Alemanha irá defender seus aliados e, diferentemente da França que fortalece seu exército com objetivo de utilizá-lo em operações externas, buscava fortalecer suas forças armadas para serem usadas sobretudo para defesa e não ataques.

Esse Zeitenwende na política alemã trouxe críticas no Parlamento Alemão já que observaram a ação de Scholz como independente e que deveria ter tido maior diálogo, principalmente após uma estabilidade política de 16 anos com Merkel no poder com uma forma de política mais cooperativa.

Scholz precisa implementar com sucesso seus planos, além de incorporá-los em uma agenda com uma filosofia política maior para que assegure a sua aprovação com o povo alemão e a comunidade internacional. A população alemã não se coloca contrária à maior militarização do país, inclusive estavam se movimentando em favor de maiores posicionamentos e maiores relações com a OTAN na defesa da Ucrânia.

A tendência futura da militarização Alemã e suas consequências para União Europeia e o mundo

Essas ações afetam diretamente a economia alemã, já que a Rússia fornece cerca de 50% do gás natural consumido na Alemanha. Mas não saíram da procura por uma autonomia maior na produção energética que a União Europeia já estava colocando em curso, buscando diminuir a influência russa.

Os países da União Europeia serão impulsionados a se fortalecer militarmente também, já que a Alemanha possui centralidade econômica na união e se tornará o 3º país com o maior orçamente militar do mundo. Principalmente com relação à Itália e à França, outros dois atores principais dentro da UE, esses gastos alemães acarretarão em um maior fortalecimento militar desses países.

Além disso, por conta da política de defesa mútua da União Europeia, a importância da união no âmbito militar regional tomará maior centralidade, tornando a Alemanha uma das principais protagonistas no caso de uma futura união das forças armadas europeias.

As relações entre Alemanha e China também sofrerão mudanças que terão consequências no cenário mundial. Como Xi Jinping e Vladimir Putin vêm estreitando os laços políticos e econômicos, por mais que a Alemanha possua relações importantes com a China, a propensão é diminuir esses relacionamentos e investir mais em países em desenvolvimento.

O crescimento econômico que estavam construindo até então serviu para que a Alemanha se tornasse uma potencia econômica mundial. Com esses novos investimentos nas forças armadas, a Alemanha também se tornará uma potencial militar mundial.

Devido ao agressivo passado Alemão que levou a duas grandes guerras, essa nova militarização pode deixar alguns atores internacionais apreensivos. Porém, a Alemanha de hoje é muito diferente da Alemanha do início do século XX. É uma das melhores e mais vibrantes democracias do mundo com alto respeito aos direitos humanos.

Uma nova Alemanha poderosa econômica e militarmente será positivo para a União Europeia em sua busca de autonomia estratégica e maior influência global e também será positivo para o mundo em geral que busca mais democracias dispostas a ter uma voz mais forte no mundo.

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