Site icon Atlas Report

10 Países que Podem Abandonar o Uso de Armamentos Russos Após Fraco Desempenho na Ucrânia

Os países que mais fabricam armamentos no mundo, de acordo com o relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), são os Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha e China. 

Juntos, esses cinco países são responsáveis pela exportação de aproximadamente 75% das armas no mundo todo. Os Estados Unidos lideram o ranking de exportações e a Rússia está logo atrás, sendo o segundo maior país exportador de armas do mundo. 

No entanto, na Guerra na Ucrânia durante o ano de 2022, o uso extensivo de armamento pelo exército russo e as sanções internacionais empregadas contra a Rússia estão prejudicando a indústria bélica de Moscou. 

Adiciona-se a esse fator o fraco desempenho do armamento russo utilizado na Ucrânia. Esses dois elementos fazem com que seja possível que tradicionais importadores de armamentos russos direcionem suas importações bélicas para outros potenciais fornecedores de armamentos, como os outros quatro grandes produtores mencionados acima, por exemplo. 

Fonte: Pixabay

Quais os países que mais importam armamentos e sistemas bélicos da Rússia e quais são esses armamentos?

De acordo com a plataforma Russia Beyonds, os países e regiões que mais tem comprado armas russas nos últimos anos são a Índia, países da África e do Oriente Médio, países da Ex-União Soviética, países da América Latina e, surpreendentemente, os Estados Unidos. 

A Índia, maior cliente da Rússia, assinou um contrato de US$590 milhões com o Consórcio Kalashnikov em 2021. Além disso, o país também teve um acordo assinado em 2018 que prevê o envio de sistemas russos de defesa antiaérea S-400. 

Ainda no ano de 2021, a Rússia realizou uma exposição militar a 17 países africanos e realizou também exposições militares no Oriente Médio. Os acordos militares assinados totalizam US$1.7 bilhão e US$1.3 bilhão, respectivamente. 

A empresa russa responsável pelas exportações, Rosoboronexport, não evidenciou quais são os países compradores, mas afirmou que dentre as exportações estariam helicópteros, sistemas de defesa aérea, equipamentos navais, veículos blindados leves e armas de fogo. 

Apesar de não divulgar o valor dos contratos militares, a Rosoboronexport especificou que a Rússia era o maior exportador de armamento da Comunidade dos Países Independentes (CEI). Dentre as 11 repúblicas que foram parte da Ex-União Soviética, o Cazaquistão e a Bielorrúsia eram os principais importadores de armas até então. 

De acordo com a mídia russa, o Cazaquistão teria recebido cinco divisões de sistemas de defesa aérea S-300PS, 16 caças multifuncionais Su-30 da geração 4+ e teria prorrogado contratos para importação de caças Su-30SM. Já a Bielorrúsia teria recebido sistemas de defesa aérea S-300 e aeronaves de treinamento Yak-130.

Na América Latina, os russos mantêm contratos militares com a Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e a principal cliente, a Venezuela. Os venezuelanos receberam veículos de combate de infantaria BMP-3M, blindados de transporte de pessoal BTR-80A, sistemas de artilharia Msta-S e sistemas de lançadores múltiplos de foguetes Grad.

Além disso, assinou contratos para  a importação de tanques T-72B1, sistemas de defesa aérea S-300VM, Buk-M2 e Tor-M1. Por fim, suas Forças Aéreas também receberam helicópteros de batalha e de transporte russos, como o Mi-17-1B ‘Panare’, o Mi-26T2 ‘Pemon’ e o Mi-35M2 ‘Caribe’, assim como numerosos caças de múltiplas funções Su-30MK2B.

No caso dos Estados Unidos, suas empresas importaram munições russas para armas leves que totalizaram US$157,9 milhões, em 2021, para fuzis de assalto AK no mercado civil. Porém, essas empresas precisarão buscar por novos fornecedores, devido às sanções instauradas em razão da guerra na Ucrânia. 

Principais importadores de armamentos russos, segundo o SIPRI

  1. Índia

Em 2012, o país adquiriu 42 Sukhoi Su-30, um caça militar conhecido por sua grande manobrabilidade. Alguns anos depois, em 2017, a Índia comprou dois sistemas aéreos de alerta de controle, o A-50ehl, além do caça MiG-29SMTs, utilizado para combates aéreos.

A última compra da nação foi de mil tanques T-90, dos quais 220 já foram entregues. Cinco sistemas de defesa antimísseis S-400 foram selecionados, mas a compra ainda não foi fechada.

  1. Egito

O país que liga o nordeste da África ao Oriente Médio já fez suas importações russas. Em 2015, 46 helicópteros de combate Ka-52 foram comprados, além de 50 aviões militares MiG-29M.

O Egito também adquiriu, em 2014 e 2015, diversos tipos diferentes de mísseis de superfície e ar. A maioria dessas compras foram entregues apenas em 2017.

  1. China

Na China, 24 aviões militares Su-35 foram adquiridos em 2015, entregues em 2016 e 2017. Ainda no ano de 2015, o país que comporta a maior população mundial comprou seis mísseis de defesa antiaérea S-400.

  1. Argélia

Localizado no norte da África, a Argélia é um antigo operador de armas russas. No ano de 2013, cerca de 42 helicópteros de combate Mi-28N foram comprados. Alguns anos depois, em 2014, o país adquiriu dois submarinos de classificação Kilo, o Type 636.

Além disso, em 2015 a Argélia encomendou oito helicópteros de transporte Mi-26, que foram todos entregues em 2017.

  1. Vietnã

Em 2009, o Vietnã adquiriu seis submarinos de classificação Kilo, o Type 636, que acabaram de ser entregues apenas em 2017. Logo no mesmo ano, 64 tanques russos T-90S foram comprados.

  1. Angola

O investimento angolano em armas russas foi de 188 milhões de dólares, com o país adquirindo 12 aviões militares Su-30K, dos quais a metade foi entregue em 2017.

  1. Cazaquistão

No ano de 2017, o Cazaquistão comprou quatro helicópteros de combate Mi-35M e 12 aviões militares Su-30MK, dos quais dois foram entregues no mesmo ano.

Alguns anos antes, em 2012, o país adquiriu 90 veículos de combate de infantaria BTR-82A, entregues em 2017.

  1. Bielorrússia

Em 2015, o país comprou 12 helicópteros de transporte Mi-8MT/Mi17, entregues entre 2016 e 2017. Ainda no ano de 2017, a Bielorrússia adquiriu 12 aviões militares Su-30MK e cem mísseis SA-15 Gauntlet, além de ter recebido quatro tanques T-72B3.

  1. Azerbaijão

O Azerbaijão comprou, no ano de 2011, 36 lançadores de múltiplos foguetes TOS-1, que tiveram suas entregas entre 2013 e 2017. Um ano antes de seu último lançador ter sido entregue, em 2016, o país adquiriu 70 veículos de combate de infantaria BTR-82A e 40 deles foram entregues logo no ano seguinte.

  1. Bangladesch

Sendo o país da lista que menos investiu em armamento bélico russo, Bangladesch comprou seis helicópteros de transporte Mi-8MT/Mi-17 em 2015, que foram entregues apenas em 2017, mesmo ano em que o país adquiriu mais cinco do mesmo.

Em 2014, Bangladesch comprou 340 veículos de transporte de tropas, todos entregues entre 2016 e 2017.

Por que a ineficiência do armamento Russo no teatro de operações da Ucrânia está levando alguns países importadores a aposentarem seu uso?

Apesar do poder de fogo superior, as forças russas não conseguiram recuperar a vantagem sobre a Ucrânia.  Um relatório do Ministério da Defesa Ucraniano visto pelo The Times, concluiu que as armas russas são antigas e ineficazes, não atendendo aos requisitos modernos. 

O relatório alega que veículos blindados e helicópteros russos são incapazes de suportar fogo de armas pequenas, enquanto os foguetes tinham apenas 33% de probabilidade de atingir alvos.

Um dos helicópteros de ataque mais modernos da Rússia – o Ka-52 Alligator – poderia ter sua armadura penetrada por uma arma de fogo de calibre 7,62 mm, quando foi construído para suportar o impacto de balas de calibre 12,7 mm.

O documento diz que, apesar das alegações da Rússia de que havia aprimorado a proteção de armaduras, o caminhão utilitário pesado Ural-63706-0010 Tornado-U tem “proteção fraca contra danos causados por armas pequenas”.

Ademais, o BMD-4M – um veículo de combate de infantaria anfíbio – foi “fracamente protegido mesmo contra armas pequenas e fragmentos de minas e projéteis de artilharia”.

Por fim, a guerra na Ucrânia reforçou o conhecido problema de design dos principais carros de combate (“tanques”) Russos como o T-62 e o T-72 que tendem a sofrer destruição catastrófica quando recebem impacto inimigo perto do seu carregador automático interno.

Todos esses problemas de desempenho do armamento Russo quando testados no campo de batalha real levaram tradicionais importadores a ser preocuparem com a grande dependência que têm desses sistemas Russos e a começarem a procurar por fornecedores de armas alternativos.

Quais os principais sistemas de armas no mercado que podem substituir o armamento Russo de baixa qualidade?

Devido aos problemas apresentados nos armamentos russos, apresentamos uma lista dos possíveis sistemas de armamentos não-russos que podem se beneficiar dessa troca de fornecedores:

Caças

Carros de Combate ou “Tanques”

Helicópteros de ataque 

Lançadores de foguetes múltiplos (Artilharia)

Sistema de defesa de mísseis antiaéreos

É importante salientar que apesar de esses sistemas serem mais modernos e eficientes que os armamentos russos, é preciso levar em consideração a disponibilidade deles para exportação o interesse dos produtores em transferirem tecnologia. 

A Rússia tem o histórico de vender armas “para quem tiver dinheiro para pagar”. Já alguns outros países, como os Estados Unidos por exemplo, costumam levar em consideração os laços políticos com seus potenciais compradores.  

Porquê a perda de mercado militar internacional dos armamentos Russos é importante? 

Quanto mais tempo a guerra russa na Ucrânia perdurar, mais desafiadora será a situação para a indústria bélica da Rússia, que está sendo alvo de sanções ocidentais sem precedentes. 

Embora seu impacto total possa não ser evidente agora, é provável que essas tensões tenham implicações de longo prazo para a capacidade da Rússia de projetar sua influência no exterior, através da venda de armamento. 

À medida que os EUA e seus aliados investem na defesa da Ucrânia, a Rússia sofre com perdas de armas e combatentes. Isso faz com que países de todo o mundo estejam repensando os orçamentos de defesa, as necessidades de material e as relações militares. 

Países que historicamente tiveram gastos reduzidos com defesa, como Japão e Alemanha, estão aumentando, enquanto as nações que compram a maioria de suas armas da Rússia estão questionando sua confiabilidade e entrega futura.

A Índia, por exemplo, em 2022 iniciou uma busca por equipamentos militares e munições em empresas nacionais e em países do leste europeu. Essa busca por novos fornecedores se tornou essencial devido a esse momento em que Moscou está lutando uma guerra com a Ucrânia e enfrentando sanções.

O concorrente potencial mais evidente para a Rússia é a China. A China não é exatamente um novo ator no mercado global de armas, mas sua crescente capacidade tecnológica implica que se prepara para se mover além de seu papel tradicional de um provedor de armas low-cost, low-capability para possivelmente reivindicar o nicho de mercado que a Rússia atualmente ocupa de grandes sistemas de armas mais complexos. 

A China não é capaz de desbancar as armas dos Estados Unidos ou da Europa, que são consideradas de alto padrão ou qualidade e de última tecnologia. Mas é possível que a China possa preencher o nicho de mercado que os fabricantes de armas russos dominaram, ganhando os benefícios políticos e econômicos que acompanham essa nova configuração.

Uma outra possibilidade é que alguns países que dependiam de outros para suas necessidades de defesa possam procurar se tornar mais auto suficientes na produção de armamento doméstico.

O Brasil, a Turquia e outros países de mercados emergentes  também têm desenvolvido suas próprias indústrias de defesa nas últimas duas décadas para reduzir sua dependência das importações de armas. Portanto, a guerra da Ucrânia poderá acelerar esse processo.

Putin provavelmente não esperava abalar o mercado global de armas com seu esforço para anexar a Ucrânia – ou causar o declínio do setor de armas de seu país. Mas essa é apenas mais uma maneira pela qual sua guerra está mudando em grande escala os rumos da geopolítica de uma forma cada vez mais desfavorável ao futuro da Rússia como potência de influência internacional. 

Exit mobile version