Os líderes dos países do G7, buscando competir com a China, adotaram um plano para apoiar os países de renda média e baixa na construção de projetos de infraestrutura e desenvolvimento de grande qualidade.
O presidente Joe Biden disse que deseja que o plano B3W “Build Back Better World” (Construa de Volta um Mundo Melhor), apoiado pelos EUA, seja uma alternativa de melhor qualidade a o programa semelhante chinês BRI “Belt and Road Initiative” (Iniciativa do Cinturão e Rota, ou a “nova rota da seda”) que ajudou a financiar trens, estradas e portos em diversos países pelo mundo, mas principalmente na África e na região Indo-Pacífica.
Em uma declaração conjunta na cidade Inglesa de Cornwall, os líderes do G7 disseram que ofereceriam uma parceria “orientada por valores de alto padrão e transparência.”
No entanto, os detalhes de como o plano de desenvolvimento internacional do G7 será financiado permanecem obscuros. A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o grupo ainda não estava pronto ainda para liberar o financiamento para essa iniciativa.
O G7, as sete democracias mais ricas do mundo, também se comprometeu com um novo plano mundial para impedir futuras pandemias.
As medidas incluem reduzir para menos de 100 dias o tempo necessário para desenvolver e autorizar vacinas e tratamentos para a Covid-19. O plano será revelado oficialmente junto com o comunicado final da cúpula.
Os americanos veem esses projetos do G7 como um desafio ao aumento da influência Chinesa em todo o mundo. A iniciativa BRI “Belt and Road” de Pequim, que viu bilhões de dólares despejados nos países em desenvolvimento, deve ser combatida pelas democracias ocidentais, segundo os Estados Unidos.
Altos funcionários da administração querem provar que os valores ocidentais do liberalismo democrático podem prevalecer sobre o autoritarismo digital da China. Eles argumentam que o investimento Chinês tem um preço muito alto; que o trabalho forçado da minoria uigur em Xinjiang é moralmente flagrante e economicamente inaceitável, pois impede a concorrência justa.
Segundo Joe Biden, as cadeias de suprimentos globais devem ser livres desse tipo de trabalho. Autoridades americanas dizem que não se trata apenas de confrontar a China, mas de apresentar uma alternativa positiva para o mundo.
Mas o governo Biden foi vago sobre quanto o Ocidente contribuiria para esse plano de infraestrutura global e em que prazo. O que está claro é uma determinação renovada entre as potências ocidentais de que precisam agir agora para conter uma crescente e cada vez mais poderosa China.
O que as potências ocidentais fizeram sobre a China até agora?
No início deste ano, os EUA, a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá introduziram sanções coordenadas contra a China. As sanções, incluindo proibições de viagens e congelamento de bens, tiveram como alvo altos funcionários em Xinjiang, que foram acusados de graves violações dos direitos humanos contra os muçulmanos uigures.
Estima-se que mais de um milhão de uigures e outras minorias foram detidos em campos na província do noroeste. O governo Chinês foi acusado de realizar esterilizações forçadas em mulheres uigures e separar crianças de suas famílias.
A China respondeu com suas próprias sanções às autoridades europeias.
Qual é o plano global do G7 para a Covid-19?
O objetivo do plano Covid do G7 é prevenir qualquer repetição da devastação humana e econômica causada pela pandemia do Covid-19.
Globalmente, mais de 175 milhões de pessoas contraíram a infecção desde o início do surto em 2020, com mais de 3,7 milhões de mortes relacionadas a Covid, de acordo com a Universidade Johns Hopkins dos Estados Unidos.
A declaração final do G7 sobre o plano explicará uma série de etapas, incluindo:
- Reduzir o tempo necessário para desenvolver e licenciar vacinas, tratamentos e diagnósticos para qualquer doença futura para menos de 100 dias
- Reforçar as redes globais de vigilância e a capacidade de sequenciamento genômico
- Apoiar à reforma e fortalecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Por que o projeto “Build Back Better World” do G7 é importante?
O projeto de desenvolvimento econômico internacional BW3 do G7 (liderado pelos EUA) é uma resposta ao BRI da China. Atualmente, projetos de desenvolvimento internacional por países ricos em países mais pobres é uma das principais armas diplomáticas que os países usam para ganhar influência e formar alianças pelo mundo.
A China, que atualmente é um dos centros hegemônicos do mundo, assim como os EUA e a União Europeia, deu um passo a frente nessa estratégia de investimentos internacionais como arma diplomática. Apesar de já terem programas do mesmo tipo – os EUA com a USAID e União Europeia com seu Projeto de Conectividade, nenhum deles era tão ambicioso e compreensivo como o BRI.
Qual são supostamente os problemas do Projeto “Belt and Road” da China?
O BRI mobilizou financiamentos muito necessários para projetos de infraestrutura em partes arriscadas do mundo que há muitos anos foram negligenciadas pelos credores tradicionais. Porém, a China, através do BRI foi criticada por financiar usinas de carvão sujo, ignorando processos de licitação justos, deslocando pessoas vulneráveis e sobrecarregando os países destinatários com dívidas maciças à China.
Em contraste, a B3W afirma que financiará projetos de infraestrutura “orientados por valores” que se alinham com o Acordo do Clima de Paris, sejam premiados a empresas de forma transparente, proporcionem benefícios de longo prazo às comunidades e ofereçam condições que as nações em desenvolvimento possam pagar.
Os EUA têm criticado particularmente a chamada “diplomacia da dívida” da China através do BRI. Isso porque o BRI foi muitas vezes criticado por super endividar alguns dos países que receberam investimentos da China, o chamado “debit trap” (algo como armadilha de dívida) onde o país de destino dos investimentos não consegue paga-los de volta, ficando assim “a mercê” do país que que o emprestou.
Por exemplo, o Sri Lanka teve um porto construído pela China, só para depois não conseguir pagar os empréstimos deste investimento e ter que “alugar” o mesmo porto para o governo Chinês por 99 anos.
Em Montenegro, o governo Chinês está construindo uma super rodovia ligando a costa com o interior do país e a Sérvia. Porém, segundo analistas, será quase impossível de Montenegro conseguir pagar algum dia, toda essa dívida. Nesse caso, qual seria a resposta Chinesa? Tomaria a estrada com tomou o porto no Sri Lanka?
E isso preocupa a União Europeia uma vez que Montenegro é um candidato oficial a se tornar um membro da UE…..além de já fazer parte da OTAN.
Em parte para conter o avanço Chinês com o BRI na região Indo-Pacífica, foi estabelecido o QSD “Quadrilateral Security Dialogue” (também conhecido com o “The Quad”). Esse dialogo estratégico informal é formado pelos Estados Unidos, Japão, Austrália, e Índia.
De acordo com os seus membros, o “espirito do Quad” é ter uma visão compartilhada de uma região Indo-Pacífica Livre e Aberta e uma ordem marítima baseada em regras nos mares do Leste e do Sul da China. Segundo eles, essas regras são necessárias para combater as reivindicações marítimas Chinesas na região que vão de encontro com vários outros países.
E o Brasil nessa nova “guerra diplomática” mundial via investimentos de desenvolvimento?
Apesar do Brasil ter recebido alguns investimentos da China em projetos de desenvolvimento dentro do país, ele está longe de ser o principal foco da China, Estados Unidos, ou União Europeia no momento.
Geopoliticamente, o Brasil está isolado. O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, teve a habilidade de criar atritos diplomáticos com as 3 superpotências mundiais. Com os Estados Unidos, se alinhou a um presidente e partido específico (o Trump), e não à nação, e aí acabou perdendo quando o Biden ganhou a eleição.
Com a Europa, reagiu infantilmente a líderes Europeus por suas preocupações com as queimadas e desmatamento na Amazônia. Desta forma, a União Europeia não está nem um pouco interessada em legitimar tal presidente com investimentos no Brasil, e certamente não aprovará o acordo Mercosul-União Europeia que vem sendo negociado por vários anos.
E finalmente com a potência Asiática, o Bolsonaro seguiu cegamente o sentimento anti-China e xenófobo do presidente Americano Trump e seus apoiadores. A China não deixou barato. Além de dificultar a exportação para o Brasil de insumos para vacinas, ela não tem nenhuma pressa em investir no país enquanto o presidente Bolsonaro estiver no comando. Esperará por uma nova administração em 2022 com a qual espera ter melhor relacionamento.
Em resumo, nesse novo jogo geopolíticos de desenvolvimento econômico mundial via projetos de infraestrutura, o Brasil é uma pária.