No dia 16 de Março de 2022, a Comissão Europeia declarou a sincronização da frequência dos sistemas energéticos da Ucrânia e da Moldávia ao ENTSO-E, a rede europeia de energia integrada.
A União Europeia está com o projeto de maior autonomia e independência interna, principalmente no campo energético, no qual depende das importações de combustíveis fósseis russos.
Incluir a Moldávia e a Ucrânia é uma forma de buscar maior supressão das necessidades energéticas internas da UE, além de diminuir a quantidade de países que possuem uma dependência essencial com a Rússia. É um meio de se fortalecer enquanto ator geopolítico e diminuir o poder russo em outras nações.
O que é a Estratégia de União Energética da União Europeia
A União Europeia está há alguns anos na sua busca por maior autonomia estratégica, incluindo no campo energético.
Desde 2005, a UE desenvolveu um primeiro programa de Política Energética (European Union Energy Policy) para minimizar a sua dependência com importações de combustíveis e energia.
Em 2007 a União importava 82% do seu petróleo e 57% do gás natural, sendo o líder mundial em importações energéticas. A Rússia, Canadá e Austrália são os principais fornecedores da UE. Mesmo com novas políticas, em 2015 ainda importavam 53% da energia que consumiam.
Foi a partir de 2015 que a Comissão Europeia criou a “União Energética”, um plano para aumentar a independência energética de todos os Estados-membros da União Europeia. Com o objetivo de interligar os sistemas elétricos de produção e consumo de energia entre os países, buscavam 10% de interligação até 2020 para criar um mercado interno de energia.
O objetivo deste mercado interno Europeu é de baixar os preços da energia, redução da necessidade de construir novas centrais elétricas, de diminuir a instabilidade da rede elétrica, melhorar a confiabilidade do fornecimento de energia renovável e incentivar a integração do mercado.
Todo o plano segue 5 principais diretrizes de prioridades:
- Segurança energética, solidariedade e confiança
- Um mercado europeu da energia plenamente integrado
- Eficiência energética que contribui para a moderação da procura
- Descarbonização da economia
- Pesquisa, inovação e competitividade.
O que é a Sincronização da Ucrânia e Moldávia à Rede Elétrica da Europa Continental?
No dia 16 de Março de 2022, a União Europeia e a ENTSO-E (Rede Europeia de Gestores de Rede de Transporte de Eletricidade) anunciaram em declaração a sincronização da Moldávia e da Ucrânia na Rede Elétrica Europeia.
A ENTSO-E é o sistema elétrico principal da Europa Continental, com 39 sistemas elétricos de transmissão em 35 países, e agora na Ucrânia e Moldávia.
Kadri Simson, responsável pela Comissão de Energia da UE, twittou: “As redes de eletricidade da Ucrânia e da Moldávia foram sincronizadas com sucesso com a Rede Continental Europeia. Vai ajudar a manter o sistema elétrico estável e as suas luzes acesas. É um marco histórico para a nossa relação – nesta área, a Ucrânia agora faz parte da Europa!“
Com essa inclusão, haverá uma economia de €200 milhões da Moldávia na criação e reforma de estações de energia elétrica. Além disso, há uma propensão de crescimento das trocas econômicas da Ucrânia com a União Europeia, principalmente por conta da produção de energia nuclear ucraniana que é a segunda maior da Europa depois da França.
Já existiam planos de incluir mais países à política de integração energética da UE até 2023, porém o processo foi antecipado com as tensões da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Como os sistemas elétricos da Ucrânia e Moldávia operavam antes da sincronização europeia?
Como ambos são países ex-soviéticos, participavam da rede elétrica comandada atualmente pela Rússia. Isso cria uma situação de instabilidade e insegurança, já que em situações como a da guerra atual, a Rússia tem um certo controle sobre a transmissão energética de países no qual possui interesse geopolítico de influência.
Desde o primeiro dia da guerra (24 de Fevereiro de 2022) a Moldávia e a Ucrânia cortaram a conexão energética com a Rússia e a Bielorrússia.
A integração com a União Europeia diminui imensamente a vulnerabilidade da dependência com o governo russo, além de ser uma demonstração de maior relação da UE com a Ucrânia e a Moldávia.
A Moldávia encarava crise energética desde o fim de 2021 com ameaças de cortes de fornecimento de gás natural russo por conta de dívidas, fechando um acordo de financiamento de 60 milhões de euros com a UE em 15 de Dezembro, além de €15 milhões para apoiar a recuperação do país e para ajudar a construir a capacidade do governo moldavo na reforma energética.
A quantidade de petróleo e gás russo que entra na Europa aumentou desde o início da guerra na Ucrânia. A União Europeia enviou à Rússia cerca de 22 bilhões de euros só para compra de petróleo e gás em Março de 2022. Mas isso pode mudar nos próximos meses à medida que os países implementam planos para diversificar suas fontes de energia e reduzir o fluxo de petróleo e gás russo, sendo a integração energética europeia, uma dessas medidas.
Qual a tendência futura do fortalecimento da União Energética europeia?
A maior autonomia da União Europeia está sendo alcançada a partir de um investimento na maior ligação e cooperação dos Estados-membros e dos países aliados Europeus como forma de facilitar negociações mais baratas e fortalecer o mercado interno de energia.
Os Países Bálticos, que fazem parte da UE desde 2014, ainda não foram sincronizados ao ENTSO-E, mesmo dependendo da rede energética da Rússia. Mas com a adição da Moldávia e da Ucrânia ao sistema, a sua adição não deve demorar para ocorrer.
Sendo uma União de 27 países, a UE possui possibilidade de autossuficiência ao fortalecer as suas relações econômicas internas, sobretudo na produção, transmissão e comercialização de energia.
A necessidade de diminuição da dependência de outros países (ainda mais países que são “adversários” aos seus interesses) é fundamental para o aumento de resiliência de uma nação (ou união intra-governamental) em contextos de conflitos geopolíticos.
Ao mesmo tempo, essa autonomia energética da UE enfraquece adversários estratégicos como a Rússia, que perdem influência em países fronteiriços como a Ucrânia e a Moldávia, enfraquecendo ainda mais o poder Russo no continente Europeu.