No dia 26 de Novembro de 2021, o Tratado de Quirinal entre a França e a Itália foi concretizado no próprio Palácio de Quirinal em Roma.
Um acordo bilateral para estreitar as relações diplomáticas entre a França e a Itália vem sendo desenhado desde 2017 pelo ex-primeiro-ministro italiano Paolo Gentiloni. Porém, as discussões somente vieram a se desenrolar depois da onda anti-Macron de 2019 (os protestos dos coletes amarelos contra a alta do imposto de combustíveis) e se concretizaram com o anúncio de aposentadoria da Angela Merkel, depois de 16 anos no poder alemão.
O que é o Tratado de Quirinal entre a França e a Itália?
Seguindo a mesma base que o Tratado de Elysée entre França e Alemanha, este acordo ítalo-francês é um aprofundamento das relações entre as nações em assuntos diplomáticos.
O acordo contém 13 cláusulas, com o combinado de reuniões anuais dos conselhos dos ministros dos dois países na busca constante por uma posição conjunta nas entidades internacionais, como União Europeia (UE), ONU e Banco Mundial.
Além disso, haverá a criação da Defesa Itália-França e Conselho de Segurança, que juntará os ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos países e facilitará o trânsito das forças militares nesses territórios. O objetivo não é somente formar uma base forte para os países, mas também para a UE como um todo, buscando consolidá-la como um ator principal na OTAN.
Há também acordos de desenvolvimento conjunto, seja industrial, educacional ou de pesquisas. Com reuniões bianuais entre os ministros da Universidade e da Pesquisa da Itália e da França, e um grande interesse em desenvolver o campo industrial da União Europeia com a base nessas potências.
No campo político fora da UE, ambos os países buscam uma expansão nas políticas de controle de imigração e das ações no Mediterrâneo.
O Fator Angela Merkel
O grande ponto é que desde a saída da Inglaterra da União Europeia, o poder econômico e político da organização se concentrou na Alemanha e na França. Não à toa essas duas nações já possuíam um acordo antigo de estreitamento de relações, o Tratado de Elysée de 1963, que permitiu maior facilidade em restabelecer uma estabilidade pós-Brexit.
A Alemanha e a França funcionavam enquanto “líderes informais” da União Europeia, mas a aposentadoria da ex-chanceler Angela Merkel alterou as bases das relações diplomáticas. Seus mandatos, totalizando 16 anos na vida política alemã, deram margem para formação de relações profundas e bem consolidadas, mas sua saída e o novo governo de Olaf Scholz mudam o jogo.
O Tratado de Quirinal entre a França e a Itália não representa somente uma tentativa de maior desenvolvimento democrático da UE, mas também uma forma de restabelecer o poder econômico da segunda e terceira potências econômicas da organização, respectivamente.
É uma forma de a França se consolidar enquanto líder e a Itália ocupar o vácuo que a incerteza alemã deixa.
Como isso influenciará as tomadas de decisão e liderança de fato na União Europeia
A presidência rotativa da União Europeia em 1 de Janeiro de 2022 ficará por 6 meses com a França.
O Tratado de Quirinal permite que nesse mandato francês os interesses italianos sejam resguardados, permitindo seu crescimento enquanto ator político. Mas também garante um apoio nas decisões tomadas nesse período.
Críticos apontam que há uma certa insegurança italiana ao fazer este Tratado de Quirinal, já que ela mesma não possui acordos com os alemães nessa estrutura. Então o que há é um triângulo de relações mas sem o lado Itália-Alemanha.
A França, assim, possui um tratado com as outras duas principais potências europeias, estabelecendo aliança com os grandes jogadores no mesmo período que ficará na cadeira principal da União Europeia.
O Tratado de Quirinal consolidou uma relação já antiga entre as duas nações mas o que se desenha é um crescimento mais avançado da França e da Itália para ocupar o espaço que a Alemanha possuía na tomada de decisões dentro da União Europeia.