- Entre as principais consequência diretas, o fim da normalização dos países Árabes com Israel é uma das mais nítidas;
- Também haverá possíveis consequências na estabilidade de países próximos com o Líbano, Síria e Iraque
- Uma nova grande ofensiva na Faixa de Gaza pode ainda influenciar eleições nacionais na Europa e Estados Unidos.
A tensão entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza é um tema delicado e com diversas nuances, o que torna o conflito ainda mais complexo. Os desdobramentos dessa rivalidade – que estende há décadas – é observado com preocupação, por isso, deixamos em evidência que sempre condenaremos todo e qualquer tipo de ataque deliberado contra civis.
O objetivo deste artigo não é tomar partido em algum dos lados, ou apontar alguma resolução para a guerra, visto tamanha a complexidade do conflito, que envolve diversos atores e múltiplos interesses geopolíticos em jogo.
No entanto, diante da mais recente declaração de guerra por parte de Israel contra o Hamas, em Outubro de 2023, emerge a necessidade de analisar as potenciais consequências geopolíticas e as implicações nas políticas nacionais de diversos países.
Este é o maior conflito envolvendo Israel desde a Guerra do Yom Kippur em 1973, o que amplifica a relevância de uma análise aprofundada sobre seus desdobramentos. Portanto, seguem as potenciais consequências geopolíticas da atual guerra entre Israel e Palestina:
1. Postergar ou inviabilizar o potencial acordo de paz entre Israel e Arábia Saudita que estava sendo negociado pelos Estados Unidos
Esse possível acordo de normalização diplomática entre a Arábia Saudita e Israel negociada junto com os Estados Unidos gerou muita tensão na região, por essa razão, pode-se sugerir que os ataques de Outubro de 2023 por parte do Hamas à Israel possam ser uma resposta direta para minar esse plano.
Isso porque, se esse plano seguir as linhas dos Acordos de Abraão detalhados abaixo, essa normalização diplomática levaria ao enfraquecimento do suporte à causa Palestina e poderia ser replicado por outros países na região, eventualmente inviabilizando a criação de um Estado Palestino. Esse mesmo acordo reforçaria a aliança informal Árabe-Israel contra o Irã. Portanto, especula-se que o Hamas pode ter recebido algum tipo de apoio por parte do governo iraniano para por em cheque esse acordo.
De qualquer forma, os planos do Hamas neste sentido foram bem sucedidos, pois duas semanas depois dos ataques, a normalização entre Israel e Arábia Saudita foi totalmente paralisada e sem perspectivas de serem retomadas enquanto o conflito em Gaza continuar. Mesmo que o governo em Riyadh ainda tenha a intensão de voltar à mesa de negociações, a grande oposição pública ao acordo devido à guerra em Gaza pode inviabiliza-lo, pelo menos no curto e médio prazo.
2. Testar a resistência dos Acordos de Abraão
Os Acordos de Abraão, também conhecidos como Pactos de Abraão, são uma série de acordos de normalização de relações entre Israel e vários países árabes e muçulmanos. Esses acordos foram mediados pelos Estados Unidos e assinados a partir de 2020. O nome “Acordos de Abraão” é uma referência ao patriarca bíblico Abraão, que é considerado um importante líder espiritual nas religiões abraâmicas, incluindo o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Os principais Acordos de Abraão incluem:
- Acordo Israel-Emirados Árabes Unidos: Este foi o primeiro acordo anunciado em agosto de 2020 e oficialmente assinado em setembro de 2020. Com esse acordo, os Emirados Árabes Unidos reconheceram a soberania de Israel e estabeleceram relações diplomáticas plenas.
- Acordo Bahrein-Israel: Anunciado em setembro de 2020 e assinado juntamente com o acordo dos Emirados Árabes Unidos, este acordo levou o Bahrein a reconhecer Israel e normalizar as relações diplomáticas.
- Acordo Israel-Sudão: O Sudão concordou em normalizar as relações com Israel em outubro de 2020, após o acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos.
- Acordo Israel-Marrocos: Anunciado em dezembro de 2020, este acordo envolveu Israel e Marrocos normalizando as relações, com os Estados Unidos reconhecendo a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental.
Esses acordos representaram uma mudança significativa na dinâmica do Oriente Médio, uma vez que esses países árabes ou muçulmanos anteriormente não tinham relações diplomáticas formais com Israel. Os acordos visam promover a cooperação econômica, cultural e diplomática entre as nações e podem ter implicações significativas na região em termos de paz e estabilidade.
No entanto, é importante ressaltar que, apesar dos governos terem firmado esses acordos, a grande parte das populações desses países mantêm simpatia e suporte à causa palestina.
Esse posicionamento acaba gerando pressões internas, críticas e manifestações contrárias a Israel e a esses acordos, uma vez que a questão palestina continua sendo uma questão importante para muitos cidadãos desses países.
Portanto, os líderes dessas nações podem enfrentar desafios para equilibrar os interesses geopolíticos com as opiniões e preocupações de suas populações em relação à guerra, potencialmente botando em risco os Acordos de Abraão.
3. Acabar com a Aliança Árabe-Israelense contra o Irã
O grupo de coordenação informal anti-iraniano, conhecido como Aliança Árabe-Israelense ou Coalizão Israelense-Sunita, opera no Oriente Médio sob o apoio dos Estados Unidos.
Essa colaboração estratégica tem como pano de fundo os interesses de segurança regional compartilhados por Israel e as nações árabes sunitas lideradas pela Arábia Saudita, em contraposição aos interesses iranianos na região, resultando nos conflitos iraniano-israelense e iraniano-saudita.
O núcleo dessa aliança consiste nos Estados do Conselho de Cooperação do Golfo, que incluem a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e Omã, que trabalham juntos de maneira não oficial para combater a influência do Irã.
Entretanto, tendo em vista o posicionamento pró-Palestina dos cidadãos árabes diante da guerra israelo-palestina, acredita-se que a durabilidade da Aliança Árabe-Israelense contra o Irã dependerá da capacidade dos países envolvidos em equilibrar seus vieses ideológicos, os interesses político-econômicos de cada país, e a opinião pública local.
4. Contraditoriamente, viabilizar a formação do Estado Palestino com a destruição de Hamas
Nesse contexto da possibilidade de destruição do Hamas por Israel, algumas das possibilidades que podem surgir são:
- Autoridade Palestina Fortalecida: Com o Hamas fora de cena, a Autoridade Palestina liderada pelo Fattah que controla a Cisjordânia ganharia influência e controle sobre a Faixa de Gaza. Isso poderia consolidar o poder e a governança da Autoridade Palestina na região.
- Negociações de Paz: Com o Hamas enfraquecido ou eliminado, as negociações de paz entre Israel e a Autoridade Palestina poderiam ser retomadas com maior chance de sucesso. Israel pode ver a Autoridade Palestina, liderada pelo Fattah, como um parceiro mais moderado e confiável para essas negociações.
- Acordo de Dois Estados: A longo prazo, isso poderia levar a um acordo de dois Estados, com a criação de um Estado Palestino ao lado de Israel. Esse acordo incluiria questões como fronteiras, segurança, refugiados, Jerusalém e outros pontos de disputa.
- Reconhecimento Internacional: Se um acordo fosse alcançado, o Estado Palestino poderia ser reconhecido internacionalmente, o que é um passo fundamental para a sua existência legal e política.
No entanto, é crucial enfatizar que essa a realidade inclui muitas variáveis, interesses, atores e obstáculos que tornam a resolução do conflito Israel-Palestina um desafio considerável.
A destruição do Hamas, por si só, não garante a formação do Estado Palestino, mas pode alterar dinâmicas políticas que eventualmente levem a um acordo de paz duradouro.
5. Esse ataque pode ser negativo para Netanyahu na política interna de Israel podendo levar à sua queda como líder
O ataque do Hamas pode ser negativo para Benjamin Netanyahu na política interna de Israel por várias razões:
- Fragilização do governo: O governo israelense sob a liderança de Benjamin Netanyahu já enfrentava divisões internas e críticas devido a alegações de corrupção e enfraquecimento do judiciário. O ataque do Hamas pode ampliar as fissuras na coalizão governante e enfraquecer ainda mais a estabilidade política do governo.
- Responsabilização: O ataque do Hamas levantou questões sobre a capacidade do governo israelense em prever e se proteger contra esses ataques, o que é controverso, pois o exército israelense é considerado uma das melhores forças armadas do mundo em termos de equipamentos, preparo e inteligência. Isso resultou em críticas diretas ao governo e à liderança de Netanyahu. A resposta do governo às ameaças e a maneira como a situação é gerenciada podem impactar negativamente a popularidade de Netanyahu.
- Protestos e oposição: Israel já havia visto protestos significativos contra Netanyahu em relação a várias questões, incluindo a reforma judicial proposta antes do ataque. O ataque do Hamas pode aumentar as manifestações e a oposição interna ao governo, tornando mais difícil para Netanyahu manter a coesão política.
6. Atrair mais atenção e apoio mundial à causa Palestina
Teoricamente, o ataque do Hamas pode ser positivo para os palestinos da seguinte maneira:
- Atenção internacional: O conflito entre Israel e o Hamas costuma atrair a atenção da comunidade internacional. A depender de como a mídia internacional apresentar os fatos, isso pode aumentar a conscientização global sobre a situação dos palestinos e promover simpatia por sua causa.
- Solidariedade regional: Com a causa palestina em foco, a solidariedade entre os palestinos e seus apoiadores na região, pode ser fortalecida, reafirmando sua unidade e determinação em relação à luta pela autodeterminação e pelo fim da ocupação israelense.
- Pressão por uma solução: O conflito pode aumentar a pressão sobre Israel para buscar uma solução política para a questão palestina, envolvendo negociações e concessões. Isso poderia, teoricamente, criar oportunidades para os palestinos avançarem em direção a seus objetivos políticos e territoriais.
7. Desestabilizar o Líbano se o conflito envolver o Hezbollah
O Líbano encontra-se mais uma vez em alerta, pois crescem os temores de que possa se tornar o segundo front na luta de Israel contra grupos islâmicos militantes.
Enquanto a atenção está voltada para a esperada resposta terrestre de Israel em Gaza, as forças israelenses também declararam uma zona militar fechada ao longo de uma faixa de 4 quilômetros na fronteira sul do Líbano, onde se envolveram em confrontos com o Hezbollah, um partido político xiita e grupo militante baseado no Líbano.
Há preocupações de que o Líbano possa se tornar um segundo campo de batalha na guerra de Israel após o ataque do Hamas. O Hezbollah transferiu unidades de elite para a região das Colinas de Golã, território sírio ocupado por Israel, tornando-a um ponto volátil.
Até o momento, os confrontos na fronteira parecem estar contidos, mas a intensificação da influência regional do Irã está aumentando as preocupações de que Teerã possa estar pressionando seu grupo proxy – ou seja, um ator que age em nome do Irã em certos casos ou conflitos – da vertente islâmica xiita, o Hezbollah, para uma guerra em larga escala.
O Ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, alertou que, se Israel não interromper sua campanha militar em Gaza, o Hezbollah, um ator-chave no “eixo de resistência” orquestrado por Teerã, está “pronto” e tem o “dedo no gatilho”.
8. Reaquecer o conflito na Síria
A persistente presença do Hezbollah e das tropas iranianas na Síria levanta sérias preocupações de reacender o conflito na região. Eles apoiaram ativamente o governo de Bashar al-Assad no conflito sírio, e agora caso venham a entrar em conflito com Israel, eles talvez demandem o apoio militar de Damasco como retribuição ao seu suporte no passado.
O mesmo acontece em relação às milícias xiitas e especialistas do Irã que apoiaram Damasco na guerra civil da Síria e poderiam pedir o apoio do regime de Assad contra Israel se necessário.
Desta forma, caso Israel e o Hezbollah entrem em conflito no sul do Líbano, provavelmente as tropas do Hezbollah, do Irã, e do próprio governo da Síria poderiam se envolver militarmente contra Israel. Nesse caso, tropas Americanas estacionadas na região do Curdistão Sírio também podem acabar se envolvendo do lado de Israel, aumentando a complexidade do conflito.
9. Desestabilizar o Iraque onde há milícias Iranianas
O caso do Iraque é similar ao da Síria no que tange a presença no país de milícias xiitas apoiadas pelo Irã. Elas estão no país porque apoiaram o governo de Bagdad contra os terroristas do grupo ISIS/Daesh. Porém, no caso do Iraque, a relação entre a milícias xiitas e o governo oficial do Iraque nem sempre é positiva pois parte da população e dos políticos locais veem essas milícias como uma intervenção externa do Irã nos assuntos internos do Iraque.
Mesmo assim, caso o Irã apoie mais abertamente o Hamas em seu conflito contra Israel, essas milícias iranianas no Iraque podem se envolver na guerra. Já há notícias de colunas de veículos militares atravessando a fronteira entre o Iraque e a Síria e se dirigindo para a fronteira de Israel. As bases militares Americanas dentro do Iraque também seriam alvo no caso de um conflito mais abrangente na região, o que afetaria também a estabilidade do frágil governo de Bagdad.
10. Envolver tropas Americanas na Síria e Iraque no conflito estendido
Além dos possíveis ataques de proxis do Irã/Hezbollah às tropas Americanas na Síria e Iraque, só a presença Americana na região já pode levar aos EUA a se envolverem no conflito em Gaza.
Isso porque a presença de tropas militares dos Estados Unidos no Iraque e na Síria cria um cenário em que os EUA podem se envolver diretamente no conflito em evolução na região. No entanto, essa não é a única variável que pode levar os EUA a intervir. Além da presença militar, a aliança com Israel e os interesses estratégicos na região também desempenham um papel significativo.
A presença das forças dos EUA no Iraque e na Síria indica um compromisso militar na região. Além disso, a aliança dos EUA com Israel estabelece um compromisso de defesa, o que poderia resultar em intervenção dos EUA em apoio a Israel caso sua segurança seja ameaçada.
Com o agravamento da guerra israelo-palestina, e o possível reaquecimento da guerra na Síria, os EUA poderiam intervir de forma ainda mais incisiva. A região é vital em termos de segurança global, abrigando importantes rotas de transporte de petróleo e gás natural, além de ser um centro de influência geopolítica. Qualquer desenvolvimento que ameace a estabilidade da região pode ter implicações significativas para os interesses dos EUA, resultando na sua intervenção.
Porém, esse cenário de ataque às tropas Americanos no Iraque e Síria já é uma realidade. Quando estávamos revisando este artigo, saiu a notícias que no dia 19 de Outubro algumas bases Americanas na região já foram alvos de ataques de drones armados que foram revindicados por grupos locais.
11. Beneficiar a Ucrânia aos olhos dos Republicanos Americanos por seu apoio a Israel
A rápida declaração do governo ucraniano em apoio à Israel pode ter os seguintes impactos em um certa ala dos eleitores republicanos dos Estados Unidos que não se encontravam tão a favor da Ucrânia e tinham uma certa simpatia por Moscou:
- Solidariedade com Israel: O apoio da Ucrânia a Israel durante o conflito com o Hamas demonstra solidariedade com um dos principais aliados dos Estados Unidos na região do Oriente Médio. Os Republicanos têm historicamente mantido apoio irrestrito a Israel e, ao verem a Ucrânia apoiar Israel, podem perceber a Ucrânia como um aliado confiável.
- Preocupações sobre o Irã: Os Republicanos geralmente têm posições mais duras em relação ao Irã, devido às preocupações com seu programa nuclear e suas atividades na região. Se houver indícios de que o Irã apoiou o ataque do Hamas a Israel, isso pode fortalecer a percepção de que a Ucrânia está alinhada com as preocupações dos Republicanos em relação ao Irã que também fornece armas para Rússia.
- Conexões de lobby: Israel tem uma influência significativa no Partido Republicano por meio de grupos de lobby e doações de campanha. Se a Ucrânia demonstrar apoio a Israel e for vista como um aliado na região, essas conexões de lobby podem se traduzir em apoio político e diplomático para a Ucrânia junto aos Republicanos.
- Bundling de ajuda: A menção de que o Congresso pode agrupar a ajuda à Ucrânia e a Israel reflete uma possível estratégia para consolidar o apoio a ambos os países. Os Republicanos podem ver essa abordagem como eficaz para fortalecer as relações bilaterais e promover seus interesses comuns.
Portanto, o apoio da Ucrânia a Israel durante o conflito com o Hamas, juntamente com a percepção de alinhamento em relação ao Irã, pode fortalecer os laços entre a Ucrânia e os Republicanos Americanos, potencialmente resultando em maior apoio político e diplomático dos dois grandes partidos Americanos para a Ucrânia.
12. Prejudicar a imagens Russa em relação aos conservadores Americanos pela sua antagonia em relação à Israel e aliança com Irã
A forte relação entre os Estados Unidos e Israel é uma questão de grande importância para muitos conservadores americanos. Eles veem Israel como um aliado crucial na região do Oriente Médio, compartilhando valores democráticos e interesses comuns em áreas como segurança e estabilidade.
Portanto, qualquer ação ou postura percebida como desfavorável a Israel pode ser vista com preocupação por esse grupo político. A Rússia, em suas relações regionais, muitas vezes se encontra em lados opostos de questões relacionadas a Israel, o que pode prejudicar sua imagem entre alguns dos conservadores americanos que ultimamente têm visto a Rússia com menos animosidade.
Além disso, a aliança da Rússia com o Irã é motivo de desconfiança nos círculos conservadores nos Estados Unidos. Os conservadores geralmente mantêm posições mais duras em relação ao Irã, especialmente devido às preocupações com o programa nuclear iraniano e suas atividades na região.
A percepção de que a Rússia está alinhada com o Irã em questões estratégicas pode ser vista como uma postura que vai de encontro aos interesses e às preocupações dos conservadores americanos, mesmo aqueles que se encontravam mais simpáticos à Moscou.
13. Potencialmente diminuir o foco e recursos Americanos e Europeus para a Ucrânia ao mesmo tempo
A guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza está provocando implicações abrangentes nas relações internacionais, e a Ucrânia não é imune a essas consequências.
À medida que a atenção global se concentra na escalada do conflito no Oriente Médio, existe a possibilidade de que a guerra na Ucrânia seja ofuscada e receba menos atenção e assistência dos atores internacionais, principalmente dos Estados Unidos e da União Europeia.
Portanto, apesar dos esforços de Kiev de buscar assistência e apoio político das nações ocidentais, a atenção voltada para as tensões no Oriente Médio pode resultar em uma reavaliação das prioridades e no redirecionamento de esforços diplomáticos, humanitários e militares.
A competição global por influência e apoio político pode levar à negociação implícita, onde questões ucranianas podem ser temporariamente deixadas em segundo plano em troca de cooperação ou apoio em outras áreas.
Porém essa redução de foco na Ucrânia parece não estar se desenvolvendo. Pela primeira vez no 17 de Outubro de 2023, os Estados Unidos autorizaram a Ucrânia a usar contra tropas Russas o míssel americano de longo alcance ATACMS, algo que Kiev vinha requisitando desde 2022. Além disso, no dia 19 de Outubro, o presidente Biden fez um pronunciamento onde explicou que vai pedir ao congresso cerca de $100 bilhões de ajuda militar conjunta para a Ucrânia e Israel.
Esses dois acontecimentos recentes podem ser uma mensagem à comunidade internacional de que os EUA não se esqueceram da Ucrânia.
14. Prejudicar as chances de reeleição do presidente Biden pela instabilidade do Oriente Médio e aumento do petróleo
A atual instabilidade no Oriente Médio pode ter implicações significativas para a possível reeleição do presidente Biden nos Estados Unidos e uma possível volta do ex-presidente Trump à Casa Branca. Diversos fatores merecem atenção nesse contexto:
- Percepção de Fraqueza e Falta de Liderança: Em um cenário de agravamento da instabilidade na região, a maneira como os Estados Unidos respondem a esses desafios pode ter sérias repercussões domésticas. Em política internacional, a capacidade de um líder de comandar eficazmente com crises é frequentemente utilizada como um indicador de liderança. Caso as ações dos EUA sejam vistas como vacilantes ou ineficazes, é provável que surjam críticas de fraqueza e falta de liderança, algo que historicamente prejudicou presidentes em exercício.
- Impacto na Política Externa: A escalada da instabilidade no Oriente Médio pode forçar o governo dos EUA a redirecionar recursos e atenção para questões na região. Isso poderia desviar o foco de outras prioridades de política externa, como as relações com Rússia e China, ou questões domésticas. Os eleitores costumam se preocupar quando percebem que recursos e esforços estão sendo desviados para crises internacionais.
- Desafios Econômicos: A região do Oriente Médio é crucial para o mercado global de energia, e a instabilidade na área pode resultar em preços mais elevados do petróleo e potenciais interrupções no fornecimento de energia que levaria a uma alta da inflação. Dado que a economia é uma preocupação primordial para os eleitores, quaisquer impactos econômicos negativos decorrentes desses eventos podem ter implicações políticas significativas.
Sendo assim, em ano de eleição, é de se esperar que eventos externos e a economia doméstica – talvez moldada por esses eventos – desempenhe um papel fundamental em sua imagem perante os eleitores.
15. Mostrar que a China não está pronta para liderar o mundo por sua relutância em se posicionar no conflito
O líder chinês Xi Jinping demorou quase duas semanas para fazer seus primeiros comentários públicos sobre o conflito Israel-Hamas. Sua declaração enfatizou a importância de uma solução de dois estados para o conflito, além de pedir um cessar-fogo rápido para evitar uma crise humanitária. No entanto, a demora de Xi em se pronunciar reflete a postura cautelosa da China em questões internacionais delicadas.
Os Estados Unidos, por outro lado, agiram de forma rápida ao demonstrar seu apoio a Israel e sua preocupação com o conflito. O presidente Joe Biden viajou para Israel em uma demonstração de solidariedade e reafirmou o compromisso dos EUA com a segurança do país. Essa ação foi tomada rapidamente, apesar dos riscos associados à escalada do conflito.
Além disso, os EUA mandaram dois grupos navais de ataque com dois porta-aviões para a região do conflito. Obviamente essa demonstração de força tem o objetivo de defender os interesses dos EUA na região mas também intimidar outros atores como o Hezbollah e o Irã a não se envolverem no conflito em Gaza. Por outro lado, não houve movimentação de tropas algumas por parte de Pequim dentro ou fora da região.
Essa diferença na resposta reflete as abordagens distintas das duas nações em relação ao conflito Israel-Hamas e a política internacional em geral. A China busca manter sua imagem de mediador neutro e não se alinha explicitamente com nenhum dos lados envolvidos. Os Estados Unidos, por outro lado, têm uma aliança histórica com Israel e estão dispostos a demonstrar apoio.
Essa demora na resposta da China pode levantar questões sobre sua prontidão para liderar no cenário internacional, particularmente em situações de conflito delicado, onde uma ação rápida é frequentemente necessária para evitar escaladas perigosas. Enquanto a China busca um papel de liderança global, sua abordagem mais cautelosa pode limitar sua capacidade de desempenhar um papel proativo e influente em questões globais.
16. Aumentar o sentimento anti-imigração na Europa pela comemorações ao atos terroristas
Os ataques do Hamas contra Israel e a celebração desses ataques por alguns grupos de migrantes, que são a favor da organização, na Europa têm o potencial de aumentar os sentimentos anti-imigração na região.
Isso ocorre porque atos de terrorismo alimentam sentimentos de insegurança e medo entre a população. Tendo isso em vista, grupos políticos e movimentos nacionalistas podem explorar esses incidentes para promover políticas mais restritivas de imigração.
Essa questão também traz à tona o debate sobre o multiculturalismo na Europa. O multiculturalismo, que promove a coexistência de diferentes grupos étnicos e culturais, pode ser questionado em face de atos terroristas.
A presença de comunidades isoladas ou radicalizadas pode levar a discussões sobre a eficácia do multiculturalismo como política. Alguns argumentam que o multiculturalismo pode levar à criação de guetos culturais que não se integram bem na sociedade de acolhimento, criando um terreno fértil para o extremismo.
No entanto, é importante ressaltar que culpar a imigração como um todo ou o multiculturalismo pelos atos de terrorismo é uma simplificação excessiva e injusta da realidade.
A maioria dos imigrantes é pacífica e contribui de forma positiva para suas sociedades de acolhimento. A relação entre terrorismo, imigração e multiculturalismo é complexa e requer uma análise cuidadosa, levando em consideração uma série de fatores, incluindo integração, políticas de segurança e condições sociais.
17. Levar partidos políticos da extrema direita à liderança na Europa, enfraquecendo a União Europeia, políticas pró meio ambiente, e políticas migratórias
A guerra de Israel contra o Hamas também tem o potencial de impulsionar partidos políticos de extrema direita à liderança na Europa, o que, por sua vez, pode enfraquecer a União Europeia (UE) e influenciar negativamente as suas políticas ambientais e migratórias.
Como já mencionado acima, a celebração de ataques terroristas do Hamas por algumas minorias de imigrantes na Europa pode ampliar o fosso entre as comunidades locais e os imigrantes, alimentando sentimentos anti-imigração. Isso poderia fortalecer partidos políticos de extrema direita que exploram esses sentimentos para obter apoio eleitoral.
Esses partidos muitas vezes têm uma postura cética em relação à UE e suas políticas de imigração. Se chegarem ao poder, podem buscar políticas mais restritivas de imigração e enfraquecer a cooperação europeia nessa área, tornando as políticas migratórias da UE mais fragmentadas e menos eficazes.
Além disso, os partidos de extrema direita geralmente são críticos das políticas ambientais, argumentando que essas políticas prejudicam a economia. Se assumirem mais controle em países europeus, podem enfraquecer o compromisso da UE com a proteção ambiental e a luta contra as mudanças climáticas.
Considerações Finais
Em tempos de crescente interconectividade global, a guerra entre Israel e o Hamas nos serve como uma amostra impactante dos inúmeros fios que entrelaçam as relações internacionais.
A guerra que se passa no Oriente Médio tem o potencial de reverberar por todo o mundo, moldando agendas políticas, geopolíticas, políticas de imigração e ambientais, além de ecoar em questões de liderança global.
Algumas das potenciais consequências mencionadas acima podem jamais ocorrer. Outras, podem ocorrer de forma ainda mais acirrada do que o previsto por nós. Além disso, também há potencias consequência geopolíticas ou em países destintos que nem mesmo chegamos a prever duas semanas depois do início do conflito em Gaza. Desta forma, a lista acima não pode ser considerada uma lista completa.
Independentemente das potencial consequêcias, esse conflito também sublinha a necessidade urgente de uma abordagem equilibrada e de longo prazo por parte da comunidade internacional para questões sensíveis. O futuro exige cooperação, governança global, e diplomacia eficazes para enfrentar os desafios globais que se intensificam em um mundo extremamente interdependente.
À medida que acompanhamos os desdobramentos da guerra Israel-Hamas, é fundamental manter um olhar crítico e uma abordagem multilateral em direção a potenciais soluções que promovam a segurança e a estabilidade mundial.